Por: Charles Spurgeon - O Principe dos Pregadores
Traduzido Por: Josemar Bessa e João Marcos
Fonte de pesquisa:Blog Sola Scriptura
A passagem abaixo, escolhida em homenagem ao Dia da Reforma, é de “Reform”, um sermão pregado na manhã de domingo de 13 de Fevereiro de 1859, no Music Hall, Royal Surren Gardens.
Queremos que alguém como Martinho Lutero se levante de sua tumba. Se Martinho Lutero visitasse, agora, as nossas assim chamadas igrejas reformadas, ele diria com toda sua santa ousadia: “eu não fui meio reformador enquanto estava vivo; e, agora, farei esse trabalho meticulosamente”.
Oh, como ele os conjuraria a lançar fora suas superstições, a abolir todos os ritos, modelos e cerimônias que não são ordenação divina! E, novamente na integridade da fé simples, a adorar a Deus somente, da maneira que o Próprio Senhor Deus ordenou. Que tudo isso, como aqueles altares do Judaísmo, caiam por terra e sejam totalmente abandonados. Eu desejo não somente ser um cristão, mas ser um cristão completo, andando nos caminhos do meu Mestre Bendito, com um coração perfeito; e desejo para todos os meus irmãos e irmãs em Cristo aqui presentes não somente que tenham Graça suficiente para salvar suas almas, mas graça suficiente para purificá-los de todo artifício humano, de toda falsa doutrina, de toda falsa prática, e de toda coisa má.
Você fala agora sobre doutrina? Não há, porventura, dois tipos de doutrina professas entre os cristãos, uma arminiana, outra calvinista? Não podemos ambos estar certos; é impossível.
O arminiano diz: “Deus ama a todos homens igualmente” •
“Não é assim”, diz o calvinista. “Ele já provou a muitos de nós, através da sua livre e distintiva graça, que ele nos deu mais do que a outros, não como recompensa por nossos merecimentos, mas de acordo com as riquezas da sua misericórdia, e o conselho da sua própria vontade.
O arminiano supõe que Cristo comprou a todos os homens com seu sangue, e que, ainda assim, multidões desses redimidos perecem. O Calvinista sustenta que nenhum daqueles por quem Jesus morreu pode perecer – que seu sangue nunca foi derramado em vão e que, dentre todos os que ele redimiu, nenhum jamais perecerá.
O arminiano ensina que, mesmo um homem sendo regenerado e tornando-se filho de Deus hoje, ele pode, amanhã, ser lançado fora do concerto, e ser tão filho do diabo quanto se mudança espiritual jamais houvesse sido forjada nele. “Assim, não”, diz o calvinista; “Salvação vem de Deus somente, e onde ele começa, ele jamais para, até que haja completado a boa obra”.
Como é obvio que não podemos, ambos, estar certos em assuntos sobre os quais tão amplamente discordamos! Eu os exorto, portanto, meus irmãos e irmãs, após haverem vocês quebrado suas imagens e cortados seus bosques, a dar um passo à frente, e destruir os falsos altares.
Só posso dizer por mim mesmo: “se eu estiver errado, desejo ser endireitado”. E por vocês eu estou solenemente preocupado; se vocês estiverem errados, que Deus os oriente a um justo julgamento, e os faça ver a verdade abraçando-a e guardando-a com seriedade e valentia. Eu gosto de que vocês sejam caridosos com os outros; mas não sejam caridosos de mais consigo. Deixem os outros seguir as convicções de suas próprias consciências, mas recordem-se: não é a consciência de vocês que deve ser seu guia, mas a Palavra de Deus; e, se a consciência de vocês estiver errada, vocês devem trazê-la à Palavra de Deus para que ela possa ser reprovada e “transformada pela renovação da vossa mente”. Isso é para que vocês façam o que Deus os ordenar, se Deus ordenar, quando Deus ordenar e da maneira que Deus ordenar.
Perdoem-me por um momento, seu me arrisco a afastar o amor de alguns por referir-me a uma ordenança da igreja a respeito da qual tendemos a discordar: o sagrado rito do Batismo é administrado, em um grande número de igrejas, a bebês de colo, sob a supervisão de seus guardiões ou amigos, enquanto muitos de nós consideramos que a Sagrada Escritura ensina que somente crentes (independentemente de suas idades) são os candidatos adequados ao batismo, e isso mediante profissão pessoal de sua fé em Cristo.
Eu vejo num homem tomar um bebê inconsciente em seus braços, e ele diz que a batiza. Quando volto à minha bíblia, não vejo absolutamente nada desse gênero lá. É verdade que encontro o Senhor Jesus dizendo: “Deixai vir a mim as criancinhas”, mas isso não abre precedente para levar uma pequena criança ao pastor, uma criança que não viria por si mesma, que era jovem de mais para andar, quanto mais para entender o significado dessas coisas. Além do mais, quando Jesus disse “deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, pois das tais é o reino dos céus” – elas, de fato, vieram a ele; mas não encontro escrito que ele as tenha batizado ou aspergido de modo algum; ele as deu sua bênção e elas foram embora.
Tenho certeza que ele não as batizou, por que é dito expressamente: “Ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos”.(Jo 4.2)
Logo, é bem claro que esta passagem não favorece o pedobatismo. Estou informado, contudo, que a razão pela qual as crianças são batizadas é que somos informados pela Bíblia que os filhos de Abraão foram circuncidados. Isso me intriga. Não consigo ver semelhança alguma entre as duas coisas. Que pessoas foram circuncidadas? Os israelitas. Por que eles foram circuncidados? Porque eram israelitas. Essa é a razão. E eu digo que não hesitarei em batizar qualquer cristão, ainda que seja um bebê em Cristo, desde que ele conheça o Senhor Jesus Cristo; ainda que tenha ele somente oito dias na fé, se provar que ele é um israelita no espírito, eu o batizarei.
Eu não tenho nada a ver com seu pai ou sua mãe quanto à religião. Religião é um ato pessoal do começo ao fim; outro homem não pode crer por mim, não pode se arrepender por mim; e outra pessoa não pode dar, por mim, a resposta de uma boa consciência para com Deus em batismo e fazer isso em meu nome. Devemos agir baseados em nossa responsabilidade individual na religião, pela graça de Deus, ou então a coisa é virtualmente ineficaz.
Agora, eu acredito que muitos homens justos adoram sinceramente a Deus junto a esse altar do batismo infantil; mas tenho igual certeza de que é meu dever esforçar-me ao máximo para derrubá-lo, pois não é um altar de Deus; o altar de Deus é o batismo do crente. O que Filipe disse ao eunuco? “É lícito, se crês de todo o coração” •
“Eis aqui água; que impede que eu seja batizado?”, disse o eunuco.
Sim, mas isto não era tudo; deveria haver fé, assim como água, antes que pudesse haver batismo legítimo; e todo batismo que é administrado a qualquer homem, sem que ele mesmo haja pedido, é um altar junto ao qual eu não poderia adorar, pois eu não creio que seja um altar de Deus, mas um altar originalmente construído em Roma, cujo padrão foi adotado aqui, para estragar a união da igreja, e para grande dano das almas.
Agora, tudo o que eu peço aos que discordam de mim é simplesmente olhar para o assunto honesta e calmamente. Se eles puderem achar batismo infantil na bíblia, então que eles o pratiquem e adorem lá; se não puderem, que sejam honestos, e venham adorar junto ao altar de Jerusalém, e lá somente.
Prometeu-se, certa vez, a uma senhora, uma bíblia, se ela pudesse achar um texto que sancionasse o batismo infantil. Ela só achou um, que foi: “Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor”. O ministro deu-lhe a bíblia por sua engenhosidade, admitindo que era uma ordenação humana, sem dúvida.
Eu cito o exemplo do batismo infantil como uma das muitas corrupções que têm se infiltrado em nossas igrejas. Está bem claro que não podem todos os partidos estar certos. Eles podem estar certos quanto aos principais pontos essenciais para salvação, apesar de que, em suas discrepâncias entre si, eles revelam erros. Eu não quero que vocês acreditem que eu estou certo. Voltem-se, ao contrário, para a escritura e vejam o que está certo.
Há de chegar o dia em que os episcopais, os independentes, os wesleyanos e todos os outros sistemas serão examinados pela Palavra de Deus, e toda forma que não seja aprovada diante do Altíssimo será abandonada. Espero estar sempre apto a levantar minha voz contra essa caridade crescente em nosso meio, a qual não é somente caridade para com pessoas, mas caridade para com doutrinas. Eu tenho fervorosa caridade para com todo irmão em Cristo que divirja de mim. Eu o amo por amor de Cristo, e tenho companheirismo com ele por amor da verdade: mas não posse ter caridade por seus erros, nem desejo que ele tenha pelos meus. Eu lhe digo na cara: “se seus sentimentos são diferentes dos meus, das duas, uma: ou eu estou certo e você errado, ou você está certo e eu, errado; e está na hora de nos reunirmos e sondarmos a palavra de Deus, para ver o que é certo”.
Falemos de suas Alianças Evangélicas, e coisas semelhantes: elas não perdurarão; elas podem executar muitos propósitos abençoados, mas não são o remédio que se deseja para nossas divisões. O que se deseja é que todos cheguemos ao modelo da Palavra de Deus, e que, quando chegarmos a isso, cheguemos juntos. Que nós venhamos “à lei e ao testemunho”. Que o batista, o independente, o clérigo deixem de lado seus velhos pensamentos, seus velhos preconceitos, suas velhas tradições e que cada homem procure por si mesmo, como à vista do Deus Todo-Poderoso, e alguns dos altares cairão, pois eles não podem todos existir após o tipo divino, enquanto suas dissimilaridades são tão palpáveis.
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